sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Indignação Patriótica (ou será Nação Indígna?)

Esta semana fiquei indignado. Segunda-feira, dia 7 de Setembro, acordei cedo para tentar assistir à parada da Independência na tv e me surpreendi quando não consegui ver nem um trecho sequer, em nenhuma emissora, muito menos na própria TV Cultura, que deveria dar seu exemplo. Não que eu seja alguém ligado às forças armadas ou coisa do tipo. Mas como cidadão que cresceu assistindo todos os anos essa evento cívico e popular, (das poucas coisas boas herdadas dos governos militares) que nos fazer lembrar minimamente nossa história e nos estimula a vangloriar nossa nação, tão castigada pelo desrespeito político de muitos de nossos governantes. E por mais indignados e decepcionados que possamos estar, isso não quer dizer que não possamos também ter orgulho de ser brasileiro. Ou pelo menos, ouvir nosso hino, que a muito tempo só ouvimos em dia de jogo da seleção e mesmo assim, só um trechinho. E isso também faz com que não aprendamos a cantá-lo corretamente. Mas, em momentos cada vez mais raros como esse, nos lembramos quem somos.

Liguei a TV, passei em cada canal e nada. Niguém sequer citou o evento que acontecia naquele momento e que no passado era televisionado ao vivo. O que eu via ao passar em cada canal? uma programação normal, como se fosse uma segunda-feira como qualquer outra. Ou se tinha algo de especial, era o fato de ser feriado. Eram programas de auditório sem o menor conteúdo, que nem citava a data histórica. Ou programação infantil, que ia da mais leve (no caso da Cultura) à desenhos enlatados Japoneses, onde só incitam a violência nas crianças. Aliás, vendo uma programação como esta para as crianças, numa data especial como foi o dia 7, que em outros países, seria um dia de festividades comemorada com orgulho por toda a nação, aqui no Brasil, nem se tocava no assunto. Ao invés de mostrar uma programação que lembrasse a história, que ensinassem as mesmas crianças que assistiam "Pokemon" naquele momento, o que estavamos comemorando (será que estávamos?) e porque, naquela data. Esta é a geração que estamos formando amanhã. Como vão ser esses pais de família, dirigentes políticos e comunicadores de amanhã, que mal sabem cantar o próprio Hino Nacional? Aliás, por falar em Hino, teve sim, apenas uma emissora que passou alguma coisinha relacionada ao tema. A Record. Mas também não passou o desfile, mas fizeram uma coisa, que de certa forma, foi legal. Um concurso no Museu da Independência, onde quem cantasse inteiramente e corretamente o Hino Nacional, ganharia R$1.000,00. Isso fez com que alguns estudassem o Hino, sendo que consequentemente, fizessem eles também conhecer o local onde o Grito da Independência foi dado (motivo da comemoração da data, lembra?), assim como o Museu e assim, a História. Mas onde estavam as outras emissoras? Nem mesmo no noticiário, bem depois do término do desfile, que apenas deu enfoque a outras coisas que aconteceram no dia, ou no máximo, sobre uma escola onde seus alunos, (os poucos que ainda mantém essa tradição), desfilaram com sua fanfarra no Sambódromo.
Sambódromo. Isto também é outro retrato do descaso que temos com nossa história e com os nossos símbolos da pátria. Um desfile que no passado era feito nas ruas, democratizando e levando esse envento cívico para mais próximo dos cidadãos, que em determinado momento terminava no mesmo local onde foi declarado a Independência. Mas não, hoje em dia, o descaso e desrespeito com com a história e seus símbolos Cívicos é tão grande, que além de não ter a mesma cobertura da mídia, como é com eventos como o Canaval e jogo de Futebol, por exemplo, a comemoração é restrita a um lugar fechado, para quem quiser lembrar o que estamos comemorando vai lá e o que é pior, este local, é o mesmo onde se comemora o desfiles de escola de Samba...

É realmente, depois a gente quer que os gringos levem o Brasil a sério, se a gente mesmo não leva...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Como começar...

Ontem estava ouvindo na rádio Eldorado FM (de São Paulo), uma entrevista com Fernando Meirelles no programa "Trip Eldorado" e achei muito interessante uma coisa que ele disse. Me indentifiquei porque a algum tempo atrás, passei pela mesma experiência que ele citou. Após ser perguntado sobre as escolas de cinemas e se tinha alguma dica pra quem quer seguir essa carreira, ele respondeu: ..."as escolas, embora sejam válidas enquanto um primeiro contato com a área, são um pouco precárias em vários sentidos. Não só em relação a equipamento e infra-estrutura, mas porque quem está fazendo o filme não tem muito controle, nem durante o processo e nem no final, do resultado. O que torna o trabalho nem um pouco autoral, porque cada colega vai desempenhar uma função, desde a fotografia até a edição e meio à revelia de quem está dirigindo. Então acaba que você não consegue um produto tão bem acabado por isso. E na publicidade, se consegue não só um exercício mais intenso de produção, pelo volume que se tem de filmes (quase que semanalmente), o que é bom para o processo de aprendizado e desenvolvimento. Mas nela, apesar de se ter um cuidado maior com o acabamento, às vezes é difícil experimentar muito, por estar atrelado à interesses comerciais, o que acarreta num trabalho também não tão autoral. Mas muitas vezes se consegue também fazer coisas bacanas..."

Como disse, vivi coisa semelhante, quando estudei cinema numa escola conceituada aqui em São Paulo. Tínhamos que produzir um curta-metragem e eu era o diretor. Imaginei um monte de coisas, vários planos bacanas, tinha tudo desenhado na cabeça e no papel. Mas ao colocar em prática, me deparei com essas "precariedades" do processo estudantil que ele citou. Primeiro, porque por imposição da escola, só poderíamos usar uma lata de filme 16 mm, que possui apenas 10 min de material bruto. Detalhe, o curta teria no final, aproximadamente 6 min já editado. Ou seja, não dava pra errar e nem repitir planos, como é feito em qualquer filme, dando não só liberdade para o diretor experimentar como errar e corrigir erros. Além disso, teríamos que filmar em apenas uma diária, sendo que se tratava de duas locações diferentes. Isso tudo com uma equipe quem mal ou nunca fez nada. Tudo seguindo exatamente o que o Meirelles citou.

Ou seja, não se pode errar, quando ainda mal se sabe acertar.

Mas como ele mesmo disse também, é necessário fazer, e às vezes é melhor juntar uma equipe e produzir uma idéia que se tem na cabeça, para exercitar, errar e corrigir erros do que não fazer. É assim que se aprende: Fazendo...

E seguindo essa mesma lógica do "tem que fazer", também achei interessante a proposta do cineasta Michael Gondry. com seu novo filme "Rebobine por Favor", onde dois amigos, que trabalhavam numa locadora de vídeos VHS, começam eles mesmos, a "re-filmar" as histórias das fitas alugadas, mas de maneira tosca e caseira.
A proposta de Gondry, no lançamento do seu filme, e para divulgá-lo, foi fazer uma exposição e um workshop, onde os participantes elaboravam e produziam, também toscamente, seus próprios "filmes".
Mas essa proposta dele é bacana porque ele diz da possibilidade de qualquer um poder fazer seus videos, estimulando isso através do seu workshop. E que façam! Não importa como, não importa que seja uma produção barata, mas que deve ser feito, para se exercitar.
Hoje com as facilidades da internet, através de canais como o YouTube por exemplo, onde qualquer um posta videos caseiros de toda espécie, tudo é possível. E o resultado foi que isso gerou uma verdadeira febre na internet, chamada de filmes "Sweded".
Veja este exemplo de filme "sweded":http://www.youtube.com/watch?v=H1B2GRz09hg
O Filme do Gondry original:http://www.youtube.com/watch?v=VYOKFV0XNZA
E o próprio Gondry fez uma versão "Sweded" do próprio filme, inteiramente estrelado por ele: http://www.youtube.com/watch?v=-B0dJQ35rDs

Outra pessoa que também fala de maneira interessantíssima, dessa "revolução" cultural moderna, é o geógrafo Milton Santos em um documentário de Silvio Tendler.
Ele fala da "Nova Globalização", uma nova ordem que surgiu, a partir de uma demanda que vem "de baixo", onde independentemente de qualquer política, poder público ou corporação do seguimento da comunicação, as pessoas comuns produzem, publicam e divulgam trabalhos autorias, opiniões e críticas, sem qualquer controle, o que está causando uma revolução cultural mundial. (Vou entrar em detalhes em outro post também sobre esse assunto).

Mas comecei falando da entrevista do Fernando Meirelles e acabei encontrando um monte de coisas novas pra se dizer. Isso é bom, porque gosto muito de cinema, gosto de falar desse assunto e por isso resolvi montar esse blog, mas quando montei fiquei pensando: "O que dizer?" ou "Por onde começar?"... então vi que o importante é começar. E isso se aplica não só a escrever um blog sobre o assunto, mas a escrever um roteiro ou mesmo produzir um vídeo e um filme.
Porque o mais difícil é começar...

Milton Santos e a nova Globalização

Confesso que havia apenas ouvido falar dele, como todo mundo, mas sabia quase nada sobre seu trabalho e suas idéias. Trata-se do Geógrafo Milton Santos. Tomei conhecimento a partir do documentário entitulado de "Encontro com Milton Santos - O mundo global visto do lado de cá". feito pelo cineasta Silvio Tendler e que chegou às minhas mãos através de meu primo, que trabalhou no filme.
Milton Santos nasceu no interior da Bahia, neto de escravos e filho de professores, foi alfabetizado pelos pais e se formou em direito. Trabalhou como jornalista e na França se tornou Doutor em Geografia. Morou em diversos países, escreveu 40 livros e ganhou vários prêmios internacionais.
Para saber mais veja nesse trecho do filme mais sobre ele:

Apesar de ser uma figura respeitadíssima no mundo, aqui no Brasil pouca gente o conhece. E ele se entitula um intelectual "outsider" por não pertencer a nenhum grupo, seja ele intelectual, político ou religioso. E perguntando pra ele, se é difícil ser um intelectual negro no Brasil, Milton responde: "É dificil ser intelectual e é difícil ser negro no Brasil. Essas duas coisas juntas dão no que dão... porque ser negro, fora do contexto de evidência o cotidiano é sempre muito pesado e ser intelectual porque não faz parte da cultura nacional ouvir uma palavra crítica..."

Ele fala nesse filme, de uma nova ordem que está surgindo, que possibilita uma "revanche" da cultura popular sobre a cultura de massa, quando ela se difunde através de instrumentos originalmente da cultura de massa, se utilizando de instrumentos do vídeo na internet por exemplo, democratizando assim a cultura e difundindo ao redor do mundo com seu próprio olhar.
Ele também fala que esta revolução, "é uma demanda que vem de baixo," de maneira explosiva e forte, a partir de camadas inferiores da sociedade, ou de países pobres ou em desenvolvimento, criando uma verdadeira revolução cultural, que lança um outro olhar sobre as coisas.
Hoje não existem fronteiras físicas nem geográficas, e através de ferramentas como Youtube, redes sociais etc, é possível ser global a partir do ponto onde se está. É o caso de tribos indígenas por exemplo, que não só se comunicam com outras tribos e civiliizações mundo a fora, trocando informações sobre suas culturas, mas também produzem videos e documentários, ou até cumprem um papel social e fiscalizador, denunciando crimes ambientais por exemplo.
Ou mesmo comunidades periféricas dos grandes centros urbanos que, embora não possuam muito espaço social para se expressar, também encontram, nesse universo "internautico", e através desses recursos, uma forma de falar e ser ouvido. Por exemplo, fazem música ou vídeos com poucos recursos, contanto histórias do seu cotidiano em sua comunidade, dialogando assim, com a sociedade. Hoje é possivel para qualquer um, mostrar uma opinião e colocar temas centrais em discurssão, com poucos recursos, ganhando espaço e importância.

Portanto, é uma nova globalização que surge, uma nova possibilidade de transformação social, cultural e até mesmo político, onde não se depende mais de poderes "superiores" para se manifestar, assim agem de maneira independente. Surge então, um fenômeno que vai cada vez mais se multiplicar.
Veja essa parte do filme que é muito interessante (parte 5/9). Mas se quiser, veja desde o início que é muito bom. Ele está dividido em 9 partes no youtube. Vale a pena.